domingo, 30 de outubro de 2011

Crônica de um Espelho




"Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido."   
1 Coríntios 13:12

Várias lições podemos tirar do espelho, vejamos algumas delas.

1. O espelho é uma projeção ilusória da matéria, e permite tal reflexo a partir da LUZ. Eis que o enigma começa a ser desvendado.
No versículo 11, anterior ao citado no início, temos a fala como dispositivo de comunicação, ou seja, a palavra. Nesse, temos a imagem como parte no poder da comunicação.
A língua, assim como a visão, são partes do corpo que nos induz ao pecado instantaneamente.
Se analisarmos o nosso corpo diante do espelho vemos a parte frontal, e como consequência, o dorso deixa de ser projetado. Conheço em parte. O espelho não nos serve de referência nem para nós mesmos, reles mortais, muito menos para qualquer pessoa que habita ao nosso redor.
Se um indivíduo de uma certa altura, de peso e cor específica se depara com uma referência refletiva, adornada de molduras, limites menores que o corpo refletido, tal referência se torna arbitrária e impossibilita uma realidade, tornando-a ilusória.

Lição 1 aprendida: A imagem importa na comunicação e na indução ao pecado.


2. Tentar entender Deus e desenhá-lo num papel começando pelos contornos, pelos limites, possibilita a introdução da corrupção num ser divino e amputa os aspectos soberano, onipotente e onipresente.
Desenhar Deus nos moldes que queremos com o objetivo de satisfazer as nossas necessidades e torná-lo uma referência de severidade, irritabilidade, castigo, isto é, querer a graça só para mim a fim de que a minha deficiência seja suprida por Ele. Quando um item da lei é infrigido por outro, queremos a justiça e a aplicação da mesma, de maneira severa e inflexível, quando a lei é infrigida por mim essa inflexibilidade torna-se flexível- a Graça serve somente para mim (quem lê que entenda).
Lição 2 aprendida: Reconhecer Deus como uma imagem em um espelho é amputar os seus atributos e centralizar a graça salvífica em torno da minha pessoa. Qualquer imagem em torno de uma divindade é arbitrária, pois torna essa deidade é pobre, impossível e irreal. Imagem e semelhança- nos resta somente a capacidade de amar.


3. Reconhecer as minhas falhas diante do espelho, não sirvo de referência nem para mim. Por que será que tento a todo custo mudar o outro, harmonizando à minha personalidade?

Espelho nas fábulas e contos, que narram a história de bruxas nos faz entender que o espelho é, puramente vaidade, um resquício narcisista cheio de conflitos, a beleza como referência. Que beleza? Quem foi que disse que cabelo pixaim não é belo? Que estereótipos são esses? Acepção de pessoas? O que é padrão? A quem me espelho?
Lição 3 aprendida: Padrões surgem a partir de referências que um espelho promove. Surgem daí os preconceitos? Conheço-me em parte, não entendo padrões, tradições imputadas, apenas aplico e dissemino.


Atrevo-me em colocar o meu eu centralizado num espelho e o resto não importa. A imagem de um espelho é cruel e egocêntrica.

Nunca vamos entender a Deus enquanto dermos limite a ele.
Nunca vou entender o outro, porque nem mesmo eu me entendo.
Sabe quando vamos conhecer a Deus? Quando destruirmos as imagens errôneas que temos Dele, e entender o que é imagem e semelhança.
Sabe quando vamos entender o próximo e respeitá-lo?
Quando destruirmos os espelhos.