A língua
Se um dia os sabores das coisas não mais existir ou me for ausente
A mim tão pouco importaria
Morreria de fome, à míngua, apenas com a saliva do céu da boca e o ar que nela habita.
A mim tão pouco importaria
Morreria de fome, à míngua, apenas com a saliva do céu da boca e o ar que nela habita.
O tato
Se me amputassem os membros inferiores ou quaisquer dos órgãos vitais,
pouco me importaria. Já estaria morto, porém vivo. Vivo e morto.
A visão
Se me arrancassem os olhos não reclamaria, o olho é o que faz morrer. Seria
santo. Um santo sem olho, é claro, um mártir com a bandeja na mão e os olhos
esbugalhados a me olhar.
A audição
Se não mais tivesse a audição pouco me importaria, viveria com a
vibração das coisas, me arrastaria como serpente a descobrir o tempo e o som das
coisas.
O olfato
Se me retirassem o cheiro das narinas estaria tão inútil e tão débil,
que não me importaria se me faltassem os outros sentidos. Não me tirem o
cheiro!
Nem do aroma, nem do podre, nem do vil. Isso me faz útil.
Reconheço ali ao longe o cheiro do amor, da dor, das desilusões.
Por favor, retirem-me o tudo e o nada. Deixem apenas o cheiro. É o que me faz útil.
Por favor, retirem-me o tudo e o nada. Deixem apenas o cheiro. É o que me faz útil.