sexta-feira, 8 de julho de 2011

Epitafiando


Estava pensando esses dias sobre a morte, mais precisamente sobre a frase que seria exposta na lápide de minha cova ou como queiram o meu epitáfio. 

Pensei em gravar: "Oh! Aurora da minha vida da minha infância querida que os anos não trazem mais"... Pensei também em: "A natureza parecia estar chorando a perda irreparável juntamente com uns pouquíssimos amigos à beira de minha cova" (adaptado de Mémorias Póstumas de Brás Cubas). 

Achei bem melhor tornar meu epitáfio bem mais conciso. Estou aqui encaixotado nesse gavetão e a olhar para cima percebo as rachaduras ocasionadas pelos cupins, ácaros, minhocas enfim. Esses nobres animais festejavam o meu retorno como se eu fosse o filho pródigo. 

Aqui esse pobres bichinhos são extremamente honestos, carregados de hombridade em seus frágeis dorsos. Dotados de uma união entre sua espécie ímpar, nunca vi igual. Percebo uma familiaridade aqui dentro que parece que eu nunca deveria ter saído do local que me originou, ou seja do pó. 

Lá fora, pobre amigos roedores de minha casa fúnebre, a vida era tão brutal, tão torpe mas extremamente essencial.

Havia imundícias várias: pais tinham relações com suas filhas, filhos matavam seus pais para ficarem com a herança, a religião matava mais que uma arma de fogo. A sociedade estava assolada em hipocrisia, o Clero não comandava mais, pois em lugar dele a mediocridade reinava. Mortos vivos entregues ao luxo e à luxúria e a vaidade rodeavam os templos sagrados. Penso novamente que daqui não deveria ter saído.

Resumirei a fadiga desse vil relato. O meu epitáfio ficaria assim: não quero contemplar a morte como muitos fazem, mas sim a Vida que em si mesma é dotada de vida. Entoar um clamor pela Vida que para muitos é loucura e inexistente. Muitos querem ter mais de uma vida, sequencialmemente como se lhe trouxessem a perfeição de seus espíritos ou sua alma. Digo que apenas uma Vida me é necessário e por ter várias mortes sou privilegiado. Ninguém tem o direito de morrer tantas vezes como nós, seres humanos, nos foi legado tal direito de morte, sequencialmente. E ainda, somos ingratos por receber gratuitamente a Vida. 

A morte é para sempre, a vida é passageira. Deve ser por isso que entronizamos mais a morte do que a Vida. Tratar a Vida como Deus tratou, ai está a beleza. Cuidar da criação como Deus cuidou também. Contemplar o feio nos parece infinitamente mais bonito e atrativo e fazemos inescrupulosamente. Aguardem o meu outro epitáfio para minha outra morte.


2 comentários:

  1. Homi...tá muito cedo pra tu pensar nisso! Viva!!!!!
    rsrs
    Seu pastor e amigo torce muito por vc!

    ResponderExcluir
  2. Sei que tá cedo, porém o quanto antes eu me preocupar, cedo também desperto para aprender a viver com intensidade e encorajamento a enxergar as belezas que podem ser aproveitadas. Somos adubos vivos. Nada de tristeza, no lugar dela só felicidade. Paz!

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.